sexta-feira, 23 de abril de 2010

Quão “Bom” É o Sistema Econômico?




Medido por certos padrões, o sistema econômico do mundo ocidental talvez pareça mui eficaz. Mas, resulta ser realmente “bom”? Ou, por fim, se mostrará muitíssimo contraproducente? Vejamos.

Em especial, nas décadas recentes, os peritos aplicaram mais controles à economia. Por quê? Se o sistema econômico realmente funciona, a oferta e a procura fixando os preços, por que tentar manipulá-lo? Muitas razões são oferecidas, mas há essencialmente dois fatores.

Por um lado, há o temor — um desejo de “proteger” uma parte da economia. Um homem, uma firma, uma classe de trabalhadores ou inteira nação, sabem todos que, se perderem para seus concorrentes não disporão de trabalho.

Talvez conheçam muito bem a “teoria” econômica. Sabem que a procura pelo público tornou desnecessário seu serviço ou produto, e que deveriam simplesmente ser transferidos para outra parte da economia em que possam desempenhar um papel produtivo, suprindo o que o público procura.

Mas, também sabem que isto significa mudanças radicais para eles, pessoalmente. Suponhamos que um homem seja idoso e tenha gasto toda sua vida aprendendo uma profissão que não é mais procurada; devia-se esperar que, de súbito, aprendesse algo inteiramente diferente? E o que dizer do salário? É óbvio que um homem transferido duma posição perita, num negócio então extinto, não ganhará tanto quando colocado num emprego em que não está treinado. Isto significa, por sua vez, que sua família disporá de menos dinheiro para viver, e seu padrão de vida tem de cair. E quem deseja isso?

Sim, a teoria da oferta e da procura, dum mercado livre e sem controles, etc., talvez pareça boa em tabelas, quando estendida por gerações ou séculos. Mas, não pode ajudar o homem que perde seu emprego hoje. Assim, o escritor sobre economia, Henry Hazlitt, observa:

“Foi precisamente o grande mérito dos economistas clássicos . . . que eles se preocuparam com os efeitos de determinada diretriz ou desenvolvimento econômico a longo prazo e sobre a inteira comunidade.”

No entanto, Hazlitt acrescenta:

“Mas, também foi seu defeito que, ao adotarem o conceito de longo prazo e o conceito amplo, às vezes desperceberam adotar também o conceito curto e o conceito estreito. Não raro se inclinavam a minimizar ou a se esquecer por completo dos efeitos imediatos dos acontecimentos sobre grupos especiais. . . . [Esta situação é] incidental a quase todo progresso industrial e econômico.”

Por esta razão, a maioria dos modernos economistas ocidentais tendem para o outro extremo, e o efeito a “longo prazo” das diretrizes é esquecido, à medida que exigem que se mantenham os empregos a todo custo. Consideremos algumas ilustrações admitidamente simples.

Suponhamos que um terno de lã dum homem possa ser feito e vendido por Cr$ 500,00 no Brasil. Todavia, as firmas de Hong Kong fabricam o mesmo terno e podem enviá-lo e vendê-lo no Brasil por Cr$ 250,00. Muitos fregueses, se não todos, comprariam dois ternos de Hong Kong pelo preço de um terno do Brasil. Se isto for mantido, os ternos brasileiros deixarão de ser procurados e milhares de operários das indústrias de roupas ficarão ociosos.

Assim, impõe-se uma tarifa para os ternos importados pelo Brasil, taxando-os grandemente. Isto aumenta enormemente o custo dos ternos feitos no estrangeiro, salvam-se os empregos no Brasil. Superficialmente, isso parece ótimo; mas, vamos examinar mais a fundo.

O que dizer do comprador? Ele paga Cr$ 250,00 adicionais por um terno. Esse dinheiro poderia ser gasto em outros setores da economia, digamos, televisores e refrigeradores. Teoricamente, o empregado brasileiro de confecções poderia ser transferido para uma destas outras indústrias. Mas, a tarifa impede que se veja confrontado com esta mudança desconfortável. Todavia, o que dizer dos trabalhadores chineses de confecção? Poderiam perder seus empregos porque seus ternos foram taxados de modo a serem expulsos do mercado, não sendo mais procurados. Vêem-se obrigados a fazer outra coisa para ganhar a vida. O problema realmente não é solucionado, é meramente colocado à parte no Brasil, neste exemplo. Havendo a tremenda afirmação das soberanias nacionais, nas décadas recentes, cada vez mais controles desta natureza e outros similares foram enxertados na economia.

O mesmo processo ocorre em cada país. Para ilustrar: Com a introdução das locomotivas a diesel, os foguistas tornaram-se desnecessários; não havia mais nenhum carvão para eles despejarem no fogo com a pá. Mas, os sindicatos conseguiram preservar o cargo de foguista. Depois disso, os foguistas eram pagos, por assim dizer, para simplesmente viajar com o trem. O emprego de foguista foi salvo, mas apenas graças ao custo incrementado para os passageiros de trem e os que enviam cargas por trem. Ao invés de transferir os foguistas para a fabricação de ternos, que talvez estivesse em demanda, o sistema os paga para permanecerem na ferrovia. No ínterim, o freguês paga mais pelos ternos difíceis de obter, bem como pelo serviço ferroviário.

O número de controles deste tipo cresceu maciçamente nas décadas recentes, envolvendo praticamente todo aspecto da economia, desde as lojinhas até as gigantescas firmas e fazendas. Cada nação, cada sindicato, cada firma, sim, cada homem, cuida de si. Tal temor — muitíssimo compreensível sob as circunstâncias — é causado pelo conhecimento de que, se cada um não cuidar de si, quem cuidará? Como temos visto, o sistema certamente não está equipado para fazê-lo, a menos que seja controlado pelo interesse especial de alguém.

Isto indica meridianamente uma das principais inabilidades por parte do atual sistema econômico. Como pode preservar indefinidamente um sistema geral de oferta e procura se, ao mesmo tempo, tem de fixar medidas que restringem este mesmo sistema? Todavia, isso é necessário, se as pessoas agora irão ter empregos. Não é preciso ser um gênio em economia para ver que tal sistema desajeitado e que contradiz a si mesmo terá de afundar em algum tempo, devido a seu próprio peso.

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