segunda-feira, 19 de abril de 2010

O Problema da Dívida

Os bancos são, inerentemente, um negócio arriscado. Lidam com amplas somas que, na maior parte, não lhes pertence. Adicionalmente, criam dinheiro e fazem empréstimos muito superiores a seu ativo. Embora possam tomar precauções adequadas, os bancos sabem que alguns empréstimos não serão pagos. Assim, põem de lado certa quantia como reservas, para cobrir dívidas não pagas. Mas, caso um número incomum de empréstimos não seja pago, tais reservas não serão suficientes para cobrir as grandes perdas com empréstimos, ou uma corrida ao banco. “Quanto maior a liquidez em risco, devido a empréstimos não saldados, tanto mais debilitado financeiramente se torna o banco”, declara a revista New York. “A falência (ou bancarrota) ocorre quando esvai-se toda a liquidez do banco.”

É cada vez maior o número de bancos, hoje em dia, que se encontram justamente em tal situação — são demasiados os empréstimos não saldados, e inexiste capital suficiente para bancá-los. Os motivos dados são abundantes: a crise do petróleo, as restrições e os déficits da balança comercial, as reviravoltas da economia, as taxas instáveis de juros, a fuga de capitais, a inflação, a desinflação, as recessões, as políticas muito agressivas de empréstimos, as falências empresariais, a feroz competição, a desregulamentação — até mesmo a ignorância e insensatez.

Mas existem meios de sobreviver — no papel. O reescalonamento dos empréstimos, a extensão da dívida por um prazo mais longo, é um dos meios utilizados vez após vez. Outro é alistar os empréstimos por seu pleno valor, embora haja pouca esperança de que o principal seja pago na inteireza. Uma tática muitas vezes utilizada é emprestar mais aos devedores, de modo que possam pagar os juros.

Todos estes métodos estão sendo correntemente utilizados pelos bancos com relação à dívida do Terceiro Mundo, que muitos consideram ser a maior ameaça à estabilidade do sistema bancário internacional. De acordo com uma pesquisa feita pelo Banco Mundial, a dívida externa de mais de cem nações em desenvolvimento atingiu um total geral de mais de US$ 950 bilhões em fins de 1985, um aumento de 4,6 por cento do ano anterior. Embora já seja grande demais, espera-se que atinja US$ 1,01 trilhão em fins de 1986. Por quê? Porque muitas de tais nações simplesmente não podem pagar o que devem e estão fazendo pressão para conseguir mais tempo e recursos. Levando-se em conta a enormidade de seus empréstimos, os bancos têm cedido. Como certa pessoa se expressou: “Se eu lhe devo um dólar, estou nas suas mãos; mas se eu lhe devo um milhão, você está nas minhas.”

Sempre surge a possibilidade de que algumas nações profundamente endividadas, cansadas das dificuldades impostas pelos programas de austeridade, possam simplesmente decidir não pagar nada. Os bancos não têm meios de obrigar nações soberanas a pagá-los. “Para os bancos, o significado da crise global de dívidas é simples”, declara a revista Savvy. “Eles obtêm a maioria dos lucros através de empréstimos, e, se alguns países não podem pagar suas imensas dívidas, os lucros dos bancos, seu capital, e os preços de suas ações, podem cair terrivelmente. . . . Significativas inadimplências no Terceiro Mundo poderiam levar o sistema financeiro ao ponto de ruptura, resultando, possivelmente, no colapso de grandes bancos.”

A inadimplência de apenas quatro nações — México, Brasil, Argentina e Venezuela — poderia causar o colapso dos nove maiores bancos dos EUA, avisam os peritos. “É notável que não tenham ocorrido inadimplências reais”, declara The New York Times Magazine. “Poder-se-ia, naturalmente, atribuir isso à semântica. Assim como as guerras não são mais ‘declaradas’, ninguém é agora declarado inadimplente em ‘sentido legal’.”

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