sexta-feira, 23 de abril de 2010

Aumentando os Problemas do Sistema

Mas, como se isso não bastasse, outro elemento principal, difícil de controlar, entra na densa sopa econômica. A ganância. Sem considerar a necessidade real, as pessoas desejam cada vez mais coisas materiais e “melhor forma de vida”, até mesmo às custas dos outros. Cada trabalhador deseja maiores salários e cada fabricante deseja preços aumentados para seu produto. Assim, no Le Monde de Paris, Bruno Durieux se refere à “luta permanente entre os grupos sociais para manter ou aumentar seu quinhão da riqueza nacional”.

Se um homem contratado para confeccionar ternos de lã exigir salário mais alto, então o preço do produto acabado tem de refletir o mesmo aumento. Outras pessoas desejosas de comprar o terno então precisam de mais dinheiro de seus próprios patrões. Assim, os produtos e serviços que fornecem também aumentarão de custo, gerando terrível espiral. Devido à vertiginosa procura, os produtos não podem ser feitos com suficiente rapidez, e, assim, os preços continuam a subir. Esta é uma das formas viciosas da inflação.

Igualmente devastador, se não for ainda mais, é o papel que os próprios governos têm tido em estimular a inflação. Observou-se anteriormente que o dinheiro apenas representa o verdadeiro valor. A moeda duma nação, em teoria simples, não deveria exceder aquilo que realmente valha, isso é, o que pode produzir. Mas, as nações modernas, violando este princípio elementar, imprimiram dinheiro que excede em muito seu verdadeiro valor. Usualmente isto tem sido feito por uma razão; por exemplo, para financiar os fornecedores de material bélico em tempo de crise nacional. Mas, o dinheiro em excesso, colocado em circulação, com o tempo reduz seu valor; tudo custa mais em termos de “cruzeiros e centavos”.

À medida que a inflação se consolida, as pessoas daquela nação vêem apenas diminuir o seu poder aquisitivo. A moeda, em outras palavras, perde seu valor, e, em relação às moedas de outros países, vale menos do que valia antes de iniciar-se o período inflacionário. Assim, tem de ser desvalorizada oficialmente no mercado mundial. Os estrangeiros conseguem então comprar mais facilmente os produtos agora mais baratos da nação atingida, criando ainda mais estragos. Como assim? Demandam os suprimentos que já eram escassos e que foram grandes causadores da inflação em primeiro lugar. Com que resultados? Mais inflação! “Inflação galopante” agora aflige a economia da maioria das nações ocidentais.

Naturalmente, também, quando se desvaloriza a moeda, ela perde algo mais, além de apenas seu valor nominal. Perde a confiança de muitas pessoas. Param de investir e tentam apegar-se ao que têm. Assim, o comércio perde o capital adicional de que precisa para expandir-se, a fim de satisfazer a procura dos produtos. Ao invés de acelerar a produção, precisa reduzi-la, porém os preços continuam altos. As pessoas são despedidas dos seus empregos e poderia acontecer uma “recessão”. A situação atual dos EUA e em outras partes é descrita por alguns como uma forma de recessão. Um número recorde de greves, também, reduziu a produção.

Inflação, recessão, desemprego tudo ao mesmo tempo — já são bastante estonteantes para se considerar. Mas, a atual pletora de problemas atingiu proporções de pesadelo. Como? Pela introdução de novos e inesperados elementos. Os preços do petróleo quadruplicaram e outros recursos naturais são mais difíceis de obter e, subseqüentemente, mais caros. Estes ajustes radicais — desconhecidos há apenas alguns meses atrás — atingiram virtualmente toda indústria no mundo ocidental com resultados estonteantes e às vezes devastadores.

Tempo inclemente significou menores safras; populações avolumantes lutam pelos suprimentos limitados. Assim, alimentos básicos certa vez baratos, tais como feijão e açúcar, multiplicaram de custo várias vezes. Quase que todo dia uma porcentagem maior da renda da pessoa mediana é usada para adquirir as necessidades da vida.

O desejo das pessoas de ter mais de tudo atingiu o sistema em ainda outro sentido, e esse é o das compras a crédito. Ao passo que a economia se expandia e era aparentemente viril, o crédito era popular. Atualmente, parece haver algum estreitamento do uso do crédito, à medida que as pessoas compreendem que não conseguem pagar suas dívidas com dinheiro inflacionado. As altas taxas de juros sobre o dinheiro barato afugentam os que querem empréstimos. Menos crédito usado significa menos produtos e serviços vendidos, deprimindo ainda mais a produção. Mas, até recentemente, todo o mundo esperava cegamente que o crescimento econômico continuasse indefinidamente. Nos EUA, acumulou-se a dívida total de US$ 2,5 trilhões (Cr$ 20 trilhões). Isso é mais de duas vezes o produto nacional bruto (ou a soma de todos os produtos e serviços daquela nação em um ano). Para cada dólar de moeda dos EUA em circulação, há agora US$ 8 de dívida.

Com efeito, grande parte do aparente “milagre econômico” obtido no mundo ocidental, nas décadas recentes, não é realmente nada mais do que uma miragem, visto que se baseia mormente em dívidas — dinheiro emprestado. Como Thomas Oliphant escreve no Sunday Globe de Boston, os estadunidenses hoje em dia estão “numa situação muito pior do que a dos seus pais . . . Seu maior bem-estar material parece, pelo menos, ser resultado tanto do enorme aumento do uso e da disponibilidade de crédito como de uma economia mais saudável”. A nação, como outras, acha-se desesperadamente endividada.

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