segunda-feira, 19 de abril de 2010

Jogadores compulsivos são sempre perdedores

“O JOGO compulsivo é uma doença, assim como o alcoolismo e o abuso de drogas são doenças”, declarou o professor Jean Ades, da França. “É um vício sem droga”, disse ele, e “cada vez mais pessoas descobrem que são viciadas”. Mesmo depois de perderem somas enormes, muitos jogadores compulsivos ficam obcecados com a necessidade de recuperar as perdas jogando ainda mais. “A maioria dos perdedores supera rapidamente o seu desapontamento. Mas, para alguns, a ânsia de jogar é tão incontrolável que pode arruinar-lhes a vida”, escreveu um jornalista na França. “Eles continuam prometendo a si mesmos que vão largar o vício, mas este sempre leva a melhor. São viciados em jogo.”

Certo jogador sul-africano admitiu: “Se você é viciado em jogo, e se senta junto à roleta ou à mesa de vinte-e-um, nada mais importa. A adrenalina ferve nas suas veias, e você apostará até o último centavo em mais um giro da roleta ou uma rodada de cartas. . . . Usando as minhas reservas de adrenalina, eu podia ficar acordado vários dias e noites seguidos, observando as cartas e os números, à espera daquele eternamente ilusório superprêmio.” Daí, ele concluiu: “Há muitos como eu que não conseguem parar depois de apostar algumas centenas de rands [dinheiro local], nem mesmo alguns milhares. Jogamos até perder tudo, e até que as nossas relações familiares fiquem irremediavelmente arruinadas.”

Henry R. Lesieur, professor de sociologia na Universidade de St. John, Nova York, escreveu que o desejo de jogar, ganhar ou perder, é tão intenso “que muitos jogadores ficam dias sem dormir, sem comer e até mesmo sem ir ao toalete. Estar em ação afasta quaisquer outros interesses. Durante o período de espera, há também uma ‘impulsão’, em geral caracterizada por suor nas mãos, batidas rápidas do coração e náusea”.

Um ex-viciado em jogo admite que ganhar não era a força propulsora de seu prolongado vício, mas sim a “impulsão”, a excitação do jogo em si. “O jogo provoca emoções terrivelmente intensas”, disse ele. “Quando a roleta gira, quando você espera o encontro com a Sorte, você sente uma vertigem e quase desmaia.” André, um jogador francês, concorda: “Se você apostou dez mil francos num cavalo e faltam 100 metros para terminar a corrida, alguém poderia dizer-lhe que sua esposa ou sua mãe morreu e você não ligaria a mínima.”

André conta como conseguia continuar jogando, mesmo depois de grandes perdas. Ele levantava empréstimos de bancos, de amigos e de agiotas a juros exorbitantes. Roubava cheques e falsificava cadernetas de poupança postais. Seduzia mulheres solitárias nas suas visitas a cassinos e daí sumia com seus cartões de crédito. “A essa altura”, escreveu um jornalista francês, André “nem ligava mais se poderia ou não algum dia arrumar as suas desastrosas finanças. O seu comportamento errático era induzido apenas pela sua obsessão.” Ele recorreu ao crime e foi preso. Seu casamento naufragou.

Em muitos casos, os jogadores compulsivos, como se dá com toxicômanos e alcoólatras, continuam jogando, embora isso lhes custe seu emprego, seu negócio, sua saúde e, por fim, sua família.

Muitas cidades na França recentemente abriram suas portas para o jogo. Onde outros empreendimentos falharam, as casas de penhores realizam prósperos negócios. Os proprietários dizem que muitos jogadores perdem todo o dinheiro e trocam anéis, relógios, roupas e outros objetos de valor por dinheiro, para comprar gasolina e poder ir para casa. Em algumas cidades litorâneas, nos Estados Unidos, foram abertas novas casas de penhores; há casos em que se podem ver três, quatro ou mais delas em fileira.

Alguns até mesmo partem para o crime a fim de sustentar o seu vício. Estudos realizados até esta data, segundo o professor Lesieur, “revelaram uma ampla gama de procedimentos ilegais entre os jogadores compulsivos . . . falsificação de cheques, apropriação indébita, roubos, furtos, assaltos à mão armada, corretagem de apostas, calotismo, aplicação de contos-do-vigário e venda de mercadorias roubadas”. Há também os crimes de colarinho-branco, em que os jogadores roubam de seus patrões. Segundo Gerry T. Fulcher, diretor do Instituto de Educação e Tratamento de Jogadores Compulsivos, 85% dos milhares de jogadores compulsivos reconhecidos admitiram roubar de seus patrões. “De fato, do ponto de vista apenas financeiro, o jogo compulsivo é potencialmente pior do que o alcoolismo e o abuso de drogas juntos”, disse ele.

Outros estudos concluíram que cerca de dois terços dos jogadores compulsivos não encarcerados e 97% dos encarcerados admitem desenvolver atividades ilegais para financiar o jogo ou pagar dívidas relacionadas. Em 1993, nos Estados Unidos, em cidades costeiras no Golfo do México, onde o jogo legalizado campeia, houve 16 assaltos a banco, quatro vezes mais do que no ano prévio. Certo homem roubou ao todo 89 mil dólares de oito bancos para custear o seu vício. Outros bancos têm sido assaltados à mira de revólveres por jogadores obrigados a pagar enormes somas a seus credores.

“Quando os jogadores compulsivos tentam largar o vício, eles têm sintomas de abstinência bem parecidos aos de fumantes ou toxicômanos”, diz o The New York Times. Mas os jogadores admitem que largar o vício do jogo pode ser mais difícil do que largar outros vícios. “Alguns de nós tiveram experiência também com o alcoolismo e o uso de drogas”, disse um deles, “e todos nós concordamos que o jogo compulsivo é muito pior do que qualquer outro vício”. O Dr. Howard Shaffer, do Centro de Estudos do Vício, da Universidade de Harvard, disse que pelo menos 30% dos jogadores compulsivos que tentam parar “apresentam sinais de irritabilidade ou sofrem de males estomacais, perturbações do sono, pressão sanguínea e pulsação acima do normal”.

Mesmo que continuem a apostar, disse a Dra. Valerie Lorenz, diretora do Centro Nacional de Jogatina Patológica, em Baltimore, Maryland, EUA, os “jogadores [compulsivos] enfrentam problemas de saúde: dores de cabeça crônicas, enxaquecas, dificuldades respiratórias, anginas, arritmias cardíacas e dormência nos braços e nas pernas”.

Há também os suicídios. Poderia haver algo pior do que o que é comumente conhecido por “vício não fatal” mas que leva à morte? Num condado americano, por exemplo, onde recentemente foram abertos cassinos, “o índice de suicídios inexplicavelmente dobrou”, disse a The New York Times Magazine, “embora nenhuma autoridade sanitária quisesse relacionar esse aumento ao jogo”. Na África do Sul, três jogadores se suicidaram numa semana. O número de suicídios por causa do jogo e de dívidas contraídas por esse meio, legal ou ilegalmente, é desconhecido.

O suicídio é uma maneira trágica de acabar com a garra opressora do jogo. No próximo artigo veremos como alguns acharam uma saída melhor.

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