segunda-feira, 19 de abril de 2010

A guerra comercial — como o atinge

UM MISSIONÁRIO americano, no Japão, recebeu US$ 2.000 de sua mãe, em novembro de 1985, para visitar seu lar, numa viagem de férias, no verão setentrional seguinte. Caso tivesse cambiado o dinheiro imediatamente, teria recebido 400.000 ienes, a uma taxa de 200 ienes por dólar. Em vez disso, ele decidiu esperar até poder comprar sua passagem aérea, em julho de 1986. Nessa época, a taxa de câmbio do dólar baixara para 160 ienes, fazendo com que seu dinheiro só valesse 320.000 ienes. Ele perdera 80.000 ienes (cerca de US$ 500) apenas por reter seu dinheiro durante sete meses. O que teria sido suficiente para comprar a passagem aérea para ele e sua esposa, ficou muito aquém disso.

Os que fazem viagens internacionais não são os únicos atingidos pela desvalorização do dólar americano. Se ultimamente comprou quaisquer itens importados do Japão ou da Europa Ocidental, provavelmente sentiu tal efeito, também. As pesquisas mostram que carros, câmaras e relógios importados, até mesmo vinhos e queijos, subiram de 10 a 20 por cento no preço em dólar, no último ano. Uma câmara fotográfica japonesa de boa qualidade que custava uns US$ 400, em outubro de 1985, por exemplo, era vendida por US$ 450 em junho de 1986, um salto de 12,5 por cento. “Flutuações adicionais da taxa de câmbio provavelmente resultarão em mais aumentos de preço do que já temos observado até agora”, diz um analista financeiro dos EUA.

Preços mais altos para o consumidor constituem apenas um dos aspectos do quadro. As indústrias do Japão e da Alemanha Ocidental sentem-se fortemente pressionadas por estas reviravoltas econômicas. Embora o preço da mesma câmara saltasse de US$ 400 para US$ 450 em poucos meses, realmente caiu de 98.000 ienes para 78.000 ienes, em moeda japonesa. Assim, noticiou-se que um dos maiores fabricantes de produtos elétricos do Japão perde US$ 30 milhões toda vez que o valor do dólar cai um iene. O efeito é similar no comércio de automóveis, do aço, dos têxteis, e de outros setores dependentes de exportação.

Para continuar competitivos, os gigantes industriais recorreram a fortes cortes nos custos, e reduziram suas margens de lucro. Algumas empresas menores, não podendo suportar tais perdas, faliram. O Mainichi Shimbun, o principal jornal de Tóquio, noticiou que 292 firmas faliram entre outubro de 1985 e agosto de 1986. Em resultado disso, os trabalhadores nipônicos, ano passado, obtiveram o menor aumento salarial em 31 anos — 4,5 por cento, em média. E o desemprego atingiu 2,9 por cento da força trabalhadora, o índice mais alto desde 1953. Receia-se que tal índice “possa piorar para 7%-8%”, de acordo com o presidente da Federação das Associações dos Empregadores do Japão.

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