segunda-feira, 19 de abril de 2010

“Caixa-forte mundial”

No século 17, a Suíça adotou a diretriz de neutralidade política, uma diretriz nem sempre mantida com êxito. Não obstante, o dinheiro depositado ali é considerado relativamente seguro. O sistema bancário suíço oferece também um sigilo completo. De modo que as pessoas que desejam manter ocultas as suas fortunas — por qualquer razão que seja — podem permanecer virtualmente anônimas.

No centro desses assuntos monetários está Zurique. Com uma população metropolitana de mais de 830.000, é a maior cidade da Suíça. Sua localização estratégica nas rotas de comércio européias tem-lhe sido útil há séculos, e hoje ela está na linha de frente das finanças do mundo moderno. De fato, o professor Herbert Kubly chama a principal avenida de Zurique de “centro bancário da Europa continental e caixa-forte mundial”.

Zurique marcou presença também nos acontecimentos religiosos. Um sacerdote católico chamado Huldrych Zwingli pregou uma série de sermões, em 1519, que levaram a uma controvérsia com o bispo católico da cidade. Foram realizados subseqüentes debates em 1523, e Zwingli saiu vitorioso. À medida que a Reforma Protestante suíça ganhava força, outras importantes cidades suíças se alinharam com Zwingli e se tornaram baluartes de sua forma de protestantismo.

Um mais recente “filho” de Zurique foi Albert Einstein, tido como um dos maiores intelectos científicos da história. Embora nascesse na Alemanha, Einstein estudou Física e Matemática em Zurique. Uma tese por ele publicada em 1905 até mesmo lhe granjeou o grau de Doutor em Filosofia na Universidade de Zurique. Suas realizações condizem com a longa tradição de excelência científica da Suíça, para a qual Zurique contribuiu imensamente. Seu Instituto Federal de Tecnologia produziu mais ganhadores do prêmio Nobel do que qualquer outra escola científica do mundo.

Mas, apesar de toda a sua riqueza, de toda a sua herança religiosa e científica, Zurique não está livre de problemas. O jornal The European pintou um quadro nada bonito a respeito da cidade em maio último. Disse que embora o “infame Needle Park da cidade, outrora um ímã internacional para traficantes”, tenha sido fechado, o cenário das drogas simplesmente mudou-se para uma área conhecida como Kreis 5. Esta área, diz a reportagem, “representa o tipo de coisa que a Suíça tenta desesperadamente esconder — o desemprego, os sem-teto, o alcoolismo, uma atitude de resignação, problemas habitacionais e, acima de tudo, o abuso de drogas”.

Paradoxalmente, o problema do abuso de drogas liga Zurique com Nova York e Hong Kong. Provavelmente mais de 80% da heroína que entra clandestinamente na cidade de Nova York vem da área do Triângulo Dourado do norte de Mianmar, Tailândia, e Laos, onde sociedades secretas de Hong Kong conhecidas como tríades estão largamente envolvidas no tráfico de drogas. Assim, muitos dos dólares ganhos pelas tríades de Hong Kong por meio das vendas de heroína para os viciados de Nova York provavelmente acabam sendo depositados em contas bancárias em Zurique.

As principais cidades, bem representadas por Londres, Zurique, Hong Kong e Nova York, têm muito em comum com a antiga Tiro. Prosperando à custa de outros, o sucesso comercial de Tiro promoveu a vaidade e o orgulho e por fim levou ao desastre.

Será que os centros comerciais de hoje se sairão melhor? É seu alicerce mais sólido? A evidência é que não se sairão melhor do que as cidades que serão consideradas no próximo artigo desta série.

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